segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Alimentar-se: ato social por excelência!

Segundo estudiosos da área, a diferença entre nutrir-se e alimentar-se é bastante tênue para as pessoas, mas muito importante quando se reflete sobre alimentação. Enquanto 'nutrir-se' se resume a um ato biológico que diz respeito à ingestão de alimentos de acordo com as necessidades de nutrientes, 'alimentar-se' é algo carregado de simbologias, significados e cultura, sendo um ato consciente e voluntário.

A mesma analogia pode ser feita para o 'alimento' e para a 'comida'. Enquanto o alimento representa, segundo a ANVISA, "toda substância ou mistura de substâncias, no estado sólido, líquido, pastoso ou qualquer outra forma adequada, destinadas a fornecer ao organismo humano os elementos normais à sua formação, manutenção e desenvolvimento”, a 'comida' é o alimento carregado de simbologias e significados.

A alimentação, este fenômeno que acontece há milhões de anos e se estabeleceu desde os povos mais primitivos da nossa espécie, teve sempre um sentido bastante complexo, que supera o conceito de 'nutrir-se'. Até mesmo os povos caçadores-coletores reuniam-se em volta do fogo para juntos prepararem e consumirem os alimentos caçados e colhidos. Desta forma, é possível perceber que aquilo que nos diferencia dos outros animais e nos torna humanos é esse poder de encher de significado tudo aquilo que era um fenômeno apenas biológico entre as espécies ancestrais.

Quando se reflete sobre a atual esfera social e emocional da alimentação, é possível dizer que tem-se hoje uma (perdoem-me o peso da palavra) animalização da alimentação, em que as pessoas ingerem alimentos em capsulas, shakes, ração, 'engolem' a refeição, se alimentam desacompanhadas e encaram o alimento como uma simples necessidade fisiológica, sem pensar o que estão comendo, o por quê estão comendo, com quem estão comendo, etc. A ciência, tecnologia e a disponibilidade de alimentos evoluíram, contraditoriamente, em meio a tanto desenvolvimento, o que acontece na alimentação hoje é um retrocesso e uma desvalorização do preparo e do consumo dos alimentos. Se alimentar em boa companhia sempre que possível, reservar um tempo à alimentação, degustar uma boa refeição, ir para a cozinha e preparar o próprio alimento ao invés de comprá-lo pronto congelado são ações que tornam a alimentação mais humana, como ela sempre foi e deve continuar sendo. Somado a isso, não devemos esquecer da importância do aspecto nutritivo dos alimentos e seu impacto na saúde das pessoas, que deve ser considerado juntamente com os aspectos psicossociais.

 Dessa forma, mais uma vez a questão do equilíbrio suscita como a melhor alternativa para uma saúde biopsicosocial impecável! É um trabalho árduo, mas de extrema importância e que deve ser exercitado pouco a pouco no dia a dia de cada pessoa. Sempre lembrando que o nutricionista é o único profissional apto a trabalhar com todas essas questões de forma integrada!

 Referências Bibliográficas: Germov J, Williams L. The epidemic of dieting women: the need for a sociological approach to food and nutrition. Appetite 1996; 27:97-108.